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Parabéns Piedade - Camila Tardelli

  • Camila Tardelli
  • 21 de mai. de 2015
  • 5 min de leitura

Hoje é aniversário de Piedade e muitas coisas passam pela minha cabeça.

Alguns cheiros, algumas cores, algumas lembranças antiiiigas.

Um menino subindo para ganhar a camiseta,

é festa junina, bandeirinhas, junho, madrugada, quentão, quadrilha.

É a tarde toda enterrando tesouros no clube de campo com minha melhor amiga.

É uma balança, o bairro que ficou pequeno, chá, muito frio.

É segunda de manhã, indo para a escola, perdendo o ônibus e voltando contente pra casa.

É a casa da minha avó, as preces da minha avó, o Centro.

É o primeiro beijo. O primeiro amor, a primeira transa.

É madrugada, a Casa da Cultura, Casa do Escritor.

É frio, na fumaça do bar, um poema de guardanapo.

É parquinho, correr por todos os lados, é a grande biblioteca, a carteirinha.

São uns sonhos imensos, de comer, de pensar.

É dia de festa, de desfile. Bailinhos, canções antigas.

É um menino, um cantinho na madrugada dos tempos.

São lágrimas quentinhas no portão.

É chá, rabanada, o cãozinho preto de manchinhas brancas, as escadas, a bisavó, o bisavô.

É dia de ano novo e a gente olha para o céu e sonha dias bonitos, sonha com o ano 2000 que a gente vai ter 17 anos e vai estar bem grande.

É dia de natal e a gente reza e se abraça.

É aniversário e ganha presente e bolo de chocolate.

São sete anos e ganha uma irmã pequenininha, de olhos azuis.

É tempo de ir embora, é tempo de nascer.

É tempo em que os pais se separam de vez.

É meia-noite e em casa amigos não dormem, em casa há chocolate quente e conversa até de manhã.

É o meio da rua, o seu rei mandou buscar uma filha pra se casar, o seu rei mandou buscar uma filha pra se casar.

É a amiga que mora longe e agora está grávida, a amiga que em março dançou, dançou, sorriu e lembrou os velhos tempos no último dia do último bar da cidade.

É um amigo em cada ponto do planeta, uma amizade esquecida dentro das gavetas, diários rasgados para a irmã não ler.

É a rua mais bonita da cidade e que ninguém sabe.

É matar aula na escola (uma vez, uma vez) e rir a manhã inteira caminhando pelas ruas.

É o caderninho cheio de poesias, aula de Língua Portuguesa, a respiração em outro ritmo, o tempo suspenso, o papel.

É dia de anotar o rio, de teatro, de cair de patins.

É para sempre, é nunca mais, é o exagero em sentir as coisas, gritar as coisas, é a adolescência.

É madrugada, sempre madrugada e a gente dorme nu, abraçado, sonhando coisas altas, sentindo coisas boas de sentir, dormindo.

É de manhã, sempre de manhã e a gente vai à feira, é a avó que conhece o mundo todo, é pão com mortadela, o avô e a brasília.

É a prima do cabelo comprido, o primo gordinho, a tia que levava andar de bicicleta, a tia grande.

E o tio da moto, dos lanches, o tio de jogar a gente pra cima e quase derrubar.

São fotos de casamento, de aniversário, é gente que já foi embora e gente que ainda não tinha chegado.

É dia do índio e na escola o professor de História pinta a gente com tinta guache.

É tempo de pneumonia, febre, cachumba.

É tempo de ficar em casa e ler, de encher folhas e folhas de pensamentos atiçados pela febre alta, é tempo de não lavar o cabelo, o pai não deixa, tempo de suco de laranja com pimentão.

É inverno, sempre de madrugada é inverno.

É primavera ou verão. São cerejeiras.

É a tia que ouvia atenta todas as poesias, as mais bobas, e colava na parede.

É a professora da segunda série.

É aula de matemática, tempo de fazer continha e ficar com as bochechas vermelhas de tanto pensar, é tempo de escola, de acordar cedo e ir bem feliz estudar.

É um livro de trezentas páginas lido num dia só, é dor de cabeça e a mãe perguntando por que você não leu mais devagar? É alergia, olhos vermelhos, terra.

É carnaval, fantasia, confete. É pão de queijo, bolo de vó, feijão.

É música. É um namorado que chora no seu colo e que você teima em ninar.

É tarde, bem tarde. Tempo de partir, tempo de chegar.

É tempo de sonhar o futuro, de tentar entender, de tentar desenhar.

É tempo de aprender sentimentos feios, sentimentos grandes, tempo de entender o mundo e de se assustar.

É aniversário da cidade, um tornado?, um vendaval?, um furacão?

É a cidade devastada, a porta que não fechava, quatro anos e a lembrança ainda quentinha, a tia grande, a da bicicleta, a prima, a do cabelo comprido, a porta, as três tentando fechar.

É a mãe ligando, chuva forte na janela, é uma coleção de livros de anatomia, as veias, os músculos.

É papel vegetal, desenho de mapa, aula de Geografia. É o professor grandão, quem avisa amigo é, ensinando a lógica do mundo.

É aula de Inglês e a gente se afunda na carteira, repete, repete, repete e torce para que o tempo ande logo.

É medo da rua, tontura, medo de sair de casa.

É um vestido, um baú.

É basquete o dia todo no Campão, a amiga que já beijava de língua, a amiga que já fazia sexo.

É pizza na São Luís ou no Barra.

É Avalon que você não pode entrar, nem ir.

É PFC que você vai escondida.

É tempo de dançar. Anturion que tinha voltar que uma e meia, Odeon, Tranchan e suco de morango.

É ciranda no meio da rua, é corrida.

É a irmã que desmaia na formatura, a mãe que sai correndo, o pai que canta.

É a rua comprida, os vídeos que o pai gravava pela janela, sinuca, bares e cheiro de cerveja.

É uma casa verde, uma casa nova, são escadas, muitas escadas.

É tarde, muito tarde, 4 da manhã, São Paulo, aniversário de Piedade. 168 anos?

Eu cá pensando as coisas, a cidade, a vontade de estar lá só um tantinho, a vontade de madrugada, a vontade de manhã.

É tarde e cá em São Paulo eu preciso dormir. Mesmo que seja um instantinho.

Boa noite, Piedade. Feliz aniversário.

Em todos os tempos, por todas as lembranças que você evoca, por todas as coisas que você me traz, de bom, de ruim, de vida, de morte, de esperança e de incredulidade, de magia e de repressão, de feiúra e de beleza, de ânsia e de carinho, de tristeza e de amor. Por todos os tempos, todos os espaços, todos os amigos, todos os beijos, todas as madrugadas de amor e de poesia, todas as primeiras vezes, todas as grandes decepções, toda essa imensa saudade. Por todo, todo esse amor: Feliz aniversário.

________________________

Camila Tardelli, Piedadense, colaborou com esse texto, Camila é escritora do Livro:

Moiara, filha da terra

Autores: Camila Tardelli, Thiery Maciel

Ilustrador: Daniel Araújo

Editora do Brasil

Ano de lançamento: 2015

Contactos com Camila Tardelli podem ser feitos pelo facebook : https://www.facebook.com/camila.tardelli.9?fref=ufi

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