Colunista - ELLEN GARCIA - Crianças, propagandas e consumo
- Ellen Garcia
- 9 de nov. de 2016
- 5 min de leitura
É importante se conscientizar das vantagens que as indústrias voltadas às crianças obtêm através de suas propagandas.
O marketing infantil se serve de manobras para conquistar a criança, uma delas é de se utilizar da inocência e fazê-las pedir para os responsáveis o produto. Por não terem a noção de que é preciso trabalhar para ganhar dinheiro e com isto comprar o que se quer, pedem o brinquedo como se fosse algo que qualquer pessoa pode possuir independente das condições financeiras.
Outra estratégia é produzir brinquedos, roupas, sapatos e até alimentos atrelados ao personagem do momento, aquele que estiver fazendo mais sucesso entre as crianças têm os seus produtos mais caros. Ainda, a vontade de ter o brinquedo é momentânea, acumulam-se brinquedos que a criança brincou bem pouco, às vezes, apenas uma única vez. Este comportamento é bem parecido com a de muitos adultos que compram no calor do momento e logo se arrependem. Somos desde crianças educados a comprar o que se passa na propaganda, justamente por nela conter momentos sentimentais que nos confundem com consumo.
A função das propagandas é misturar sentimentos que induzem a compra e, inconsequentemente, voltam-se diretamente ao público infantil ao invés do adulto, quem realmente deveria decidir o que comprar para as crianças (não a criança insistir para ter). O anúncio de uma sandalinha junto com uma varinha mágica é direcionado às meninas, conquista-as por que a varinha irá causar certa inveja das amigas que a acharão um máximo por isso. Caso contrário a propaganda estaria focada aos adultos que comprariam o calçado e, nele conteria informações sobre a qualidade, durabilidade e conforto do produto. Um comercial de cereal matinal para meninos envolve brincadeiras de aventuras misturando o alimento com conquistas como um super-herói admirado por eles. Se fosse para adultos, a publicidade exporia a qualidade do alimento por suas vitaminas e minerais propícios para uma boa saúde às crianças. E os exemplos são infinitos.
Até para adultos: o chocolate que irá agradar a namorada, o batom que agradará o namorado, o antitranspirante masculino que irá atrair grupos de mulheres, além do carro etc.
Nossos sentimentos são bem explorados nos estudos de marketing por que através deles é que nos convencem a comprar. Por necessidade ninguém consumiria bastante, nossas necessidades fisiológicas são poucas, básicas e simples. Mas a emocionais são infinitas, nosso cérebro é muito complexo e nosso ego precisa ser inflado com inveja alheia, admiração, fama, glória, elogios, reconhecimento e tudo isso parece que conseguimos nos com aquele produtinho do comercial.
É importante que a criança saiba lidar com as emoções pela educação, esclarecimento das situações a fim de entender que comprar um objeto não resolve seu anseio na maioria das vezes. Isto é um dos instrumentos do mercado para nos fazer consumir e também um dos causadores de sermos ainda “infantis” na hora de lidar com emoções, já que são resolvidas através de consumo. Um dos motivos de atualmente a diabetes e o colesterol serem o que mais matam pessoas no mundo, é o fato da comida industrializada ser amplamente difundida nas propagandas com momentos de alegria e confraternização: no café da manhã com o pote de margarina, no natal com o peru e o refrigerante, nas datas comemorativas regadas de chocolates e bolos e, claro que estas datas se expandem para o restante dos dias, tornando muitos destes alimentos diários.
Este assunto se relaciona com a sustentabilidade por que promove o grande consumo que faz cada vez mais explorarmos os recursos da natureza para fazer os brinquedos, os calçados, inclusive os animais para produzirem leite, ovos, margarina e queijos tão presentes nos industrializados. E a exploração humana de suas horas de trabalho e sentimentos meramente reduzidos a objetos e resolvidos temporariamente pela compra. Antes de consumir algo é importante a reflexão e descoberta de qual sentimento está por trás desta compra, em seguida buscar o motivo de ter este sentimento e por quais valores que tem dentro de si que o (a) leva a ter estes sentimentos. Leituras sobre meditação, yoga, terapia e autoconhecimento ajudam no desenvolvimento pessoal, emocional e melhora o relacionamento com o próximo e com natureza. Somos seres complexos dotados de peculiaridades e diferenças, cada um é único e por este motivo nenhuma propaganda saberá resolver o seu problema, apenas vender sua mercadoria.
A importância de educar uma criança consciente é um desafio para que ela não seja vítima da mídia, que consiga pensar com sua própria cabeça sem se deixar levar pelo que ouve e vê. Para que seja uma criança, um adolescente, um adulto e um idoso de mente saudável e saiba lidar com situações e sentimentos sem precisar descontar na compra e consumo de algum tipo de comida, bebida, objeto, vestuário ou drogas. O consumo deve estar ligado à alguma atividade que traga bem-estar de longo prazo, como um quadro para uma pintura, ferramentas para um trabalho de decoração; alimentos para culinária, roupas para ocasiões especiais ou necessidade. Nada por impulso, pois prejudica a própria pessoa.
Para proteger a criança da publicidade vale realizar tarefas que contemplem os momentos presentes e o relacionamento como a leitura de histórias, brincadeiras com cartas, mímica, adivinhação, música, dança; desenhar, cozinhar. Ensiná-los a fazer um lanche saudável para a escola (aproximando a relação com os filhos, economizando dinheiro e assim também se alimentam melhor). Conversar com as crianças sempre que necessário sobre as propagandas para esclarecer a real função e objetivos delas. Trabalhar com mesadas para que tenham noção da relação compra e dinheiro. Diminuir o tempo na televisão e internet, determinando horários específicos. Doar e trocar brinquedos que não usam, fazer alguns com material reciclável estimulando a percepção de espaço, visão, toque e trabalho em grupo. Fazê-las entender que nem sempre obter objetos é o melhor presente para celebrar uma data comemorativa, mas sim a presença e diversão com amigos e familiares. Incentivar atividades de solidariedade que ajudam crianças, animais, idosos, pessoas de rua etc.
Participar de atividade que gostem como esporte, luta, coral, teatro ou dança. Visitar locais de baixo custo como parques, museus, feiras e pontos turísticos. E transpor estas atitudes e diálogos para outras famílias, para a comunidade e escola. Com estes pequenos hábitos, sua criança crescerá com valores diferentes dos atuais que valorizam mais o consumo e mais o que uma pessoa tem do que ela é. Ela passará a ter atitudes que beneficiam a si e quem está a sua volta, se tornando uma criança mais ativa, presente e feliz.

Ellen da Silva Garcia é Biologa formada na UNESP com especialidade em Educação Ambiental, tem interesse em plantas, animais, cidades sustentáveis, hortas orgânicas, decoração, artesanato, literatura e escrita. Para contatos, facebook: https://www.facebook.com/ellen.garcia.9484
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