Sustentabilidade: como ela se apresenta para nós? - Colunistas Ellen Garcia
- Ellen da Silva Garcia
- 14 de out. de 2016
- 5 min de leitura
A sustentabilidade nos remete a um estilo de vida que busca usar os recursos ambientais de forma não exploratória a fim de que sejam usufruídos por todos os seres que habitam no planeta e também para às novas pessoas que nascerão nesta terra. Os recursos ambientais são os componentes da natureza, atualmente os usamos para sobrevivência e também para nossas riquezas.
Primeiramente, citaremos os integrantes do meio natural considerados não-vivos como o solo, o ar, o sol, os minérios (rochas) o fogo e a água. O primeiro se transforma em tijolos, vidros, telhas e azulejos para nossas casas. Dos minérios de ferro e alumínio temos vergalhões, torneiras, panelas e bijuterias que também usam o quartzo, swarovski, cristal e outras pedras para sua confecção. O fogo, eterno combustível de aquecimento, junto com o ar, energia solar e a água são fontes de energia elétrica.
Outro grupo abrange os seres vivos, que estão classificados em cinco reinos: vegetal, animal, protista, fungos e bactérias. Nossa alimentação baseia-se na maioria destes reinos supracitados: saladas, carnes, grãos, raízes, cogumelos e alimentos fermentados por bactérias como iogurtes, chucrutes e picles. Remédios e cosméticos podem tanto ser produzidos a partir de alguns alimentos como frutas, sementes e folhas quanto a partir de animais, (geralmente seus venenos ou tóxicos). Ademais, da madeira das árvores construímos móveis, artesanatos, utensílios domésticos, brinquedos, papéis e lápis.
Roupas de cama, de banho e nosso vestuário vêm de algodão vegetal e animal (carneiros, cabras), da seda produzida pela lagarta “bicho- da- seda” ou do poliéster, um derivado do petróleo. Aliás, o petróleo também é um combustível, se desmembra em gasolina, diesel e gás metano, além de piche para asfaltos dentre outros compostos. São matérias-primas dos plásticos: potes, embalagens de produtos de higiene e alimentos por exemplo.
Enfim, há uma infinidade de recursos naturais que usamos que se transformam nessas tecnologias, fazendo nossas vidas cada vez mais confortável. A tecnologia é considerada qualquer manuseio praticado por nós com um objeto industrial ou com a própria matéria-prima para buscar algo que desejamos. Logo, escrever com uma caneta, digitar num teclado, fabricar copo ou mesmo um celular, construir uma casa ou mesmo refinar o petróleo, todos são considerados formas de tecnologia.
Agora que você sabe como se criam alguns produtos para nós, vamos relacionar o uso da natureza para esse fim com justiça ambiental e social. Os progressos sociais e ambientais não evoluíram como o avanço tecnológico. Nossa relação com o meio ambiente e com a sociedade ainda estão distantes e apáticas. Com certeza já ouviram a expressão: “fulano parece que vive na idade média” ou “sicrano tem a cabeça de mil anos atrás, está atrasado frente ao mundo em que estamos”? Isto é bem frequente acontecer. Mas quando se trata da tecnologia, ocorre o inverso, o que mais ouvimos são: “estamos vivendo o futuro”, “Quem imaginaria que chegaríamos tão longe?” ou “Nunca imaginei que isso um dia poderia existir”. Estes comentários e sentimentos já nos provam o quanto prosperamos na técnica, mas não na sociedade e na relação com a natureza. Os bens de consumo (os produtos, os objetos) recebem muito investimento dos mercados, o alto valor econômico que possuem abocanham grande parte do financiamento, enquanto que programas sociais sobre educação, inclusão e justiça social, cultura, arte e meio ambiente são muito pouco importantes para o Governo. As empresas investem grandemente em propaganda e marketing e convivemos com suas marcas e produtos através do carro -de -som que passa na nossa cidade, pelos intervalos das rádios, das novelas e claro, pela internet. E qual o resultado disto? Muitos de nós queremos comprar os produtos destas propagandas, e os motivos são diversos: consumir por consumir- não por necessidade, para aparentar ou manter um status, ou para se sentir próximos àqueles que vimos usando o produto, mas o principal é simplesmente por que estão sendo constantemente injetados em nossas mentes. Comprar tornou-se um passatempo, uma terapia e uma compulsão. E surge assim a importância do ter sobre o ser. E o que acontece com o planeta onde muitas pessoas passam a querer obter tudo o que se anuncia nos comerciais, outdoors e campanhas? No começo do texto, tivemos uma pequena noção da origem dos produtos, dessa forma, o que acontece com o planeta já que o grande consumo faz parte da nossa realidade?
Para atender a demanda, as indústrias alimentícias, siderurgias, petroquímicas mineradoras saqueiam a natureza, recebem a matéria-prima de graça, mas por sua modificação cobram muito dinheiro. Quem quiser comprar seus produtos deve trocá-los por uma quantia determinada. E pecaminoso é o desequilíbrio ecológico ocorrendo com uso abusivo dos animais e plantas, das retiradas de solos, com a busca dos minérios e pedras, retirada do petróleo das profundezas do planeta e com o represamento das águas para hidrelétricas. Nestes ambientes modificados também vivem outros seres vivos que serão prejudicados. Estas intervenções ainda, como a construção de uma grande hidrelétrica, obrigam os próprios humanos que moram no local a se mudarem para outro desconhecido, não familiar, não condizente com sua cultura. Se mudar passa ser uma obrigação!
Foram séculos de construção de uma cultura que negligencia a atitude solidária e comunitária em prol da experiência individual humana de descobrir e fazer existir coisas em detrimento de estudos sobre nosso papel dentro da natureza, da nossa inter-relação na comunidade com outras diversas espécies nesse ecossistema. Dessa forma, isolamo-nos da natureza para estudá-la, e fizemos dela mero instrumento, uma utilidade ao invés de um lar de compartilhamentos de experiências e aprendizados. É uma Cultura onde seus valores têm raízes no Ocidente da Grécia e de Roma em detrimento da Oriental Asiática. Esta privilegia as questões da energia e espiritualidade, fora do plano material, daquilo que podemos palpar pelo toque.
Claramente, avançados no quesito de bens materiais, no entanto poucas são as pessoas que usufruem e, ainda; apesar da minoria da população possuir a capacidade de ter, consomem em demasia. Cada um pode ter uma base de seu próprio impacto (consumo) no planeta pela pegada ecológica. Ela consiste numa estimativa de quantos planetas terras seriam necessários se todo mundo consumisse igual a você, caso queira fazer o teste, pode fazê-lo por este link: www.pegadaecologica.org.br. “Em 2006, os 65 países com maior renda, que somam 16% da população mundial, foram responsáveis por 78% dos gastos em bens e serviços; os norte-americanos, representantes de apenas 5% da população mundial, abocanharam uma fatia de 32% do consumo global” segundo o Ministério do Meio Ambiente. E nisto percebemos a desigualdade social, a exorbitância de grupos diminutos, enquanto a grande parte da população quase nem consome. E cabe lembrar que a natureza não é uma fonte infinita de recursos e tão pouco ainda podemos habitar Marte ou a Lua. A Sustentabilidade surge no momento em que estas evidências de degradação ambiental e social se tornam muito claras para a sociedade e há uma movimentação para repensar e reverter este modo de viver que está se tornando cada vez mais injusto e predatório.
Bom, não paramos por aqui, acredito que ainda muitas questões pairam no ar em relação à Sustentabilidade, ainda vamos falar mais sobre o assunto, mandem dúvidas e sugestões. Ainda serão abordados como foi construída a cultura do materialismo e consumo, quais hábitos podemos mudar para ajudar a transformar nossa vida e nosso planeta e o que já está sendo realizado para isso; a relação com as crianças e até com o feminismo.

Ellen da Silva Garcia é Biologa formada na UNESP com especialidade em Educação Ambiental, tem interesse em plantas, animais, cidades sustentáveis, hortas orgânicas, decoração, artesanato, literatura e escrita. Para contatos, facebbok: https://www.facebook.com/ellen.garcia.9484
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