Colunistas - Ellen Garcia - Como os problemas ambientais afetam mais as mulheres?
- Ellen Garcia
- 31 de out. de 2016
- 2 min de leitura
O que a Sustentabilidade tem a ver com as mulheres e no que se relaciona com os problemas climáticos? Em áreas rurais por exemplo, a tarefa de buscar água cabe às mulheres ou às meninas, desta forma, quem vai com mais frequência à escola são os meninos que consequentemente conseguem emprego em lugares onde se vive melhor. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, em Gana, se diminuir apenas 15 minutos desta caminhada, aumentaria a frequência das meninas na escola de 8% para 12%. Além disso, também são encarregadas de buscar madeira e o uso dos fogões tradicionais para aquecimento e cozimento geram muita poluição matando cerca de 2 milhões de pessoas por ano, sendo 85% mulheres e crianças. Devido a tantas tarefas domésticas demandando muitas horas do dia, a menina com poucas chances consegue a mesma educação que um menino. Por falta de esperança de conseguir emprego, acaba por não se mudar de um local onde se encontra adversidades climáticas como enchentes, secas e desmoronamentos. Também a herança de terras, sendo de tradicional dever de o homem administrar, dificulta as circunstâncias para a mulher tomar posse da produção de alimento de autossubsistência, e também tem de lidar com o clima local para alcançar a produção com êxito.
Por ser culturalmente considerada de responsabilidade da mulher cuidar do lar, o número de famílias chefiadas apenas por mulheres já é maior do que as chefiadas por homens. Sem instrução escolar, as crianças ficam mais propícias e contrair doenças, principalmente as causadas por falta de saneamento com diarreia, vômito e febre. Também, as desproporções nos salários fazem diferença, o rendimento mensal das mulheres, em média é de R$510,00 e dos homens R$690,00 de acordo com dados do IBGE. Assim, a maioria dos residentes em periferias e favelas são famílias chefiadas por mulheres, locais onde infraestrutura básica de saúde são precárias ou até inexistentes.
Muitos homens usam sua instrução para melhorar a condição de toda sua família, mas é tão grande o número de pessoas femininas que sofrem com a pobreza que aqui vemos uma diferença de gênero: as mulheres e meninas representam atualmente 72% do total de pessoas que vivem em condições de extrema pobreza no mundo segundo a médica e antropóloga mexicana Úrsula Oswald Spring. Ainda diz que há países que mulheres não podem sair de casa sem o marido, “mulheres não aprendem a correr, a nadar, subir em árvores para se protegerem de eventuais crises climáticas”.
A Sustentabilidade, tem como um de seus pilares a justiça social, e nas desigualdades de gênero observadas verificamos o quanto a igualdade de oportunidades de escolaridade e emprego para ambos os sexos é importante. As tarefas domésticas sendo praticadas pela maioria das mulheres as impedem de melhorar a condição de vida com as mesmas possibilidades que os homens. Desta forma sofrem mais com a falta de água, saneamento básico, mudanças climáticas e pobreza; e são nestes pontos que a questão ambiental engloba as questões feministas.

Ellen da Silva Garcia é Biologa formada na UNESP com especialidade em Educação Ambiental, tem interesse em plantas, animais, cidades sustentáveis, hortas orgânicas, decoração, artesanato, literatura e escrita. Para contatos, facebook: https://www.facebook.com/ellen.garcia.9484
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